O primeiro sinal foi o casal da mesa ao lado. Voltou-se e mirou-nos com surpresa, como se a nossa ousadia fosse pura loucura. Logo a seguir, todos no café nos fitaram, irados. O velho que tragava o vinho ao balcão, por entre arrotos e umas asneiras, cuspiu para o chão em sinal de protesto.
A TV ligou-se como que por magia e falavam comentadores e jornalistas. Praguejavam contra o mundo, atiravam culpas como ovos podres.
Os nossos lábios separaram-se num sorriso meigo e o mundo inteiro retomou o seu rumo: o velho pediu mais um copo; a criança deu a mão à mãe; os condutores trocaram contactos e seguradoras; alguém tirou o som à televisão. O mundo prosseguiu, mas o arrepio do nosso beijo ficou para sempre gravado na sua espinha.
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